A Escala de Treinamento do Cavalo

21/12/2023

Há alguns anos atrás, escrevemos um artigo aqui nesse blog, falando a respeito de como os cavalos devem ser treinados. 

O tempo passou, e a cada dia essa matéria é mais e mais importante, seja no âmbito de competição, no âmbito de bem estar animal, no âmbito de treinar como "hobby".

E é exatamente por isso que estamos retomando esse assunto, quase 10 anos depois.

Para ilustrar melhor, estamos aqui falando desta escala:

Figura com direitos autorais de Priscila M.R.G.Thomazelli, sendo usada em seu blog: https://www.dressagearteequestre.com/l/este-e-um-blog-com-imagens/ e publicada em algumas revistas (virtuais e físicas) do meio equestre

A Escala de Treinamento de cavalos, frequentemente comparada a uma pirâmide, é um conceito fundamental no mundo da equitação, especialmente no Adestramento Clássico. Este modelo de treinamento busca desenvolver o cavalo de maneira sistemática e harmoniosa, e é reconhecido mundialmente por sua eficácia na construção de uma base sólida tanto para cavalos quanto para cavaleiros. Vamos explorar cada degrau desta escala, destacando sua importância e como cada um se baseia no anterior para alcançar o ápice do treinamento:


1. Ritmo, Cadência e Regularidade:

O primeiro degrau da pirâmide é a base para todos os outros. Aqui, o foco está no desenvolvimento de um ritmo constante e uma cadência equilibrada em todas as andaduras (passo, trote e galope). A regularidade refere-se à manutenção desse ritmo e cadência sem variações abruptas. Este degrau é crucial porque um cavalo que não possui um ritmo confiável não pode progredir corretamente nas etapas seguintes. Um bom ritmo promove a confiança e a segurança, permitindo que o cavalo e o cavaleiro trabalhem em harmonia.

Começamos com o ritmo, que é a pedra angular de todo o treinamento equestre. O cavalo deve manter um ritmo consistente, independentemente da andadura, seja no passo, trote ou galope. A cadência refere-se à qualidade do ritmo, a marcação do tempo que cada passo ou batida deve ter. Já a regularidade assegura que esses padrões de ritmo e cadência sejam mantidos sem variação, mesmo em diferentes circunstâncias ou exercícios. Esta etapa é crucial para o desenvolvimento da confiança e previsibilidade, aspectos fundamentais para a segurança e o bem-estar tanto do cavalo quanto do cavaleiro.


2. Descontração, Flexibilidade e Fluência:

Com um ritmo estabelecido, o próximo passo é garantir que o cavalo esteja relaxado e flexível. A descontração permite que o cavalo se mova livremente sem tensão muscular ou mental, o que é essencial para a saúde e a longevidade do animal. A flexibilidade permite que o cavalo execute movimentos laterais e curvas com fluência e sem rigidez, facilitando o desenvolvimento muscular adequado e evitando lesões.

A descontração deve ser buscada para assegurar que o cavalo se mova sem tensão ou rigidez. A flexibilidade é crucial para realizar movimentos elegantes e eficientes, enquanto a fluência traduz a suavidade e a graciosidade com que esses movimentos são realizados. A descontração e a flexibilidade são a base para um cavalo saudável e responsivo, características que permitem o aprimoramento da técnica e a execução de movimentos mais complexos mais adiante.

3. Contato e Conexão:

O contato refere-se à conexão suave e constante entre a boca do cavalo e as mãos do cavaleiro, através das rédeas. Este degrau não se trata de forçar a cabeça do cavalo para uma posição específica, mas de criar uma linha de comunicação sensível e eficaz. A conexão adequada assegura que o cavaleiro possa dar comandos precisos e que o cavalo possa recebê-los e respondê-los com clareza.

A comunicação eficaz através das rédeas estabelece um diálogo entre cavaleiro e cavalo.: "As rédeas servem para ler os pensamentos do cavalo e não para dirig-lo. Para dirigi-lo usamos a "inner Picture", ajudas de visualização, assento e pernas"- frase de M. Priscila Thomazelli. O contato adequado não é um estado de tensão, mas um equilíbrio dinâmico onde o cavaleiro sente a boca do cavalo nas mãos de forma leve e viva. A conexão verdadeira permite que as ajudas sejam dadas e recebidas com clareza, resultando em respostas precisas e refinadas pelos equinos.

4. Impulsão:

A impulsão é a energia motriz que vem dos quartos traseiros do cavalo, a fonte de seu poder. É mais do que simples velocidade; é energia controlada que permite ao cavalo realizar movimentos mais exigentes com vivacidade e força. Um cavalo com boa impulsão é capaz de transições mais suaves entre as andaduras e de executar movimentos colecionados com maior facilidade.


A impulsão é a força motriz que permite ao cavalo mover-se com energia e vitalidade. É a capacidade do cavalo de utilizar os quartos traseiros de forma eficiente, gerando poder para todos os movimentos subsequentes. Sem impulsão, seria impossível para o cavalo executar movimentos coletados ou estendidos com qualidade e equilíbrio.

5. Retidão:

A retidão alinha o cavalo de modo que seu corpo siga uma linha reta, seja em movimentos diretos ou em curvas, onde os quartos traseiros seguem o caminho dos ombros. Este alinhamento previne o desenvolvimento desigual da musculatura e assegura que o cavalo possa carregar o peso de forma equilibrada, melhorando assim a eficácia dos movimentos e prevenindo lesões.

Trabalhar a retidão é corrigir a tendência natural do cavalo de se desviar do alinhamento correto. Importante tanto para a simetria do desenvolvimento muscular quanto para a eficiência dos movimentos, a retidão assegura que o cavalo esteja equilibrado e capaz de realizar movimentos em linha reta e curvas com a mesma facilidade, evitando sobrecarga em um lado do corpo.

6. Reunião:

No topo da pirâmide, a reunião é o ponto em que todas as etapas anteriores convergem. O cavalo aprende a carregar mais peso nos quartos traseiros, aumentando a elevação e a flexibilidade das patas dianteiras. Isso leva a uma maior agilidade e capacidade para executar movimentos avançados de alta dificuldade, como piaffe, passage e piruetas, que são a expressão máxima do treinamento clássico.

A reunião é a síntese de todos os degraus anteriores, onde o cavalo alcança o mais alto grau de coleta. Aqui, o cavalo aprende a carregar mais peso nos quartos traseiros, permitindo uma maior liberdade e leveza dos membros dianteiros. A reunião permite ao cavalo realizar movimentos avançados com agilidade e precisão, demonstrando o auge da harmonia e da capacidade atlética.


Diante destes da explicação deste degraus e ainda considerando a tradução da FEI sobre a escala feita por Cel. Salim Nigri, podemos dividir a escala de treinamento em três partes:

- Desenvolvimento do entendimento e confiança, enfocando o ritmo, descontração e contato;

-Desenvolvimento da força de impulsão, enfocando a descontração, contato e aceitação da embocadura, impulsão e retidão.

-Desenvolvimento da autossustentação, enfocando a impulsão, retidão e reunião.

Imagem da Manual Escala de Treinamento – tradução do Cel. Salim Nigri

A prática contínua e a revisão em cada etapa são essenciais para manter e melhorar a qualidade do treinamento. Além disso, a adaptação a cada cavalo individualmente é crucial, pois cada um apresentará seus próprios desafios e potenciais. O respeito pelo bem-estar do cavalo e a paciência no treinamento refletem a ética da equitação, que valoriza o desenvolvimento físico e mental do cavalo, resultando em um parceiro atlético e confiável para qualquer cavaleiro.

O treinamento seguindo esta escala não apenas prepara o cavalo para competições de alto nível, mas também assegura que ele tenha uma vida útil mais longa e saudável nas práticas equestres. Cada degrau constrói a base para o próximo, criando uma progressão lógica que respeita a anatomia e a psicologia equina, promovendo uma parceria baseada em confiança e respeito mútuos entre o cavalo e o cavaleiro.